"Véi", assim você me "racha a cara"!
O Evangelho de João, ao relatar o espúrio julgamento de Jesus, inclui um detalhe que nos oferece importante reflexão. Em João 18.15-18, o evangelista vai contar a história da negação de Pedro e relata, além desta, uma outra decepção havida ali, mas que passa batida.
Jesus havia sido preso e levado à casa de Anás. Pedro e João seguiam junto. João, por ser conhecido na casa do Sumo sacerdote entrou até o pátio. Já Pedro não pode entrar. Entendendo que era bom ter alguém junto, João intercedeu junto à empregada para que Pedro pudesse entrar. Um líder. Intenso. Com o dom da palavra. Pessoa forte para uma hora crítica. A empregada deixou. Pedro entrou. Ótimo. João deve ter se sentido muito bem, mais seguro, mais fortalecido para quem sabe ajudar mais Jesus.
No entanto, ... no entanto, para surpresa de João, no primeiro arrocho que Pedro levou, ele negou Jesus e o resto a gente já sabe. João deve ter ficado de olhos arregalados. “Como assim, “véi”?!?! Bicho, eu não estou acreditando no que acabei de ver, ouvir e assistir. Véi, que conversa é essa? Como você não é de Jesus? Pô, eu intercedi pra que você entrasse e nos ajudasse, e você “pipoca”?!?! “Véi”, em que mundo você está?! Assim você me racha a cara!!! Não roa a corda! Pedro, acorda! Acorda, meu irmão!!”
Uma decepção particular para João que pensava que na hora “H” o amigo Pedro iria chegar junto. Uma decepção particular para João que usou sua credencial, seu prestígio, sua reputação para trazer alguém que iria ajudar.
Isto nos faz pensar sobre uma cena muito comum. Pessoas que decepcionam ao não ser aquilo que disse que seriam para o seu amigo ou próximo. Pessoas que ofereceram apoio, mas, na hora “H” não cumpriram sua palavra e fizeram de conta que nem conheciam aquele para quem garantiram estar junto. Pessoas que aceitaram um emprego, um “bico” que fosse para chegar junto, ajudar, mas, que depois que “tá lá dentro” começa a “morcegar”. Coisa de rachar a cara!” Estas coisas fazem pessoas pensar duas, três vezes antes de contar com ajuda oferecida, apoio oferecido. Ou mesmo, oferecer-se, oferecer beneficio utilizando-se de sua condição, influência, poder.
Fidelidade. Lealdade. São valores “pétreos” para vivermos relacionamentos. Correspondamos com tudo o que somos quando alguém nos chama e nós dizemos: “Sim. Pode contar comigo”! Não decepcionemos as pessoas sendo tudo, menos aquilo que ela esperava porque dissemos que seríamos para ela. Evitemos “rachar a cara” do outro. Evitemos também roer a corda!
Honremos nossas palavras. Honremos nossas atitudes! Jesus nos honrou, cumpriu suas palavras e promessas, beneficiando-nos de multiformes maneiras. E isto nos tem feito muito bem. Façamos isto ao outro também.
Gilmar Degen
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