III - JESUS DIANTE DO TRIBUNAL CIVIL.
Mt 27.1-26
Mc 15.1-15
Lc 23.1-25
João 18.28-40.
A noite de quinta-feira santa foi terrível. Após a condenação, a assembléia dos homens mais nobres de Jerusalém gritaram: É réu de morte! É réu de morte! Tomaram-no, cuspiram nele e bateram nele. De repente, deram-se conta de que eles não tinham o direito de matar a ninguém, porque eram dominados pelos romanos. Apressaram-se e correram ao tribunal de Pôncio Pilatos. Foram cedo na sexta-feira. Queriam evitar tumulto, pois temiam o povo. Deus, porém, pensou diferente. Pilatos perguntou a eles: “Que acusação trazeis contra este homem?” (Jo 18.29). A lei romana primava por sua justiça (At 25.16). Na pressa, os fariseus haviam esquecido de formular a acusação, pois a acusação de blasfêmia não tinha valor diante do tribunal romano. Eles respondem: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos. Replicou-lhes, pois, Pilatos: Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa lei (Jo 18.30). Refazendo-se do seu susto, começaram a acusá-lo: Ele alvoroça o povo (Lc 23.5). Interessante, ao longo da história da humanidade, a mesma acusação (1 Rs 18.17; Jr 38.4; At 21.38). Mas, os perturbadores da paz não foram os profetas de Deus, nem Jesus, nem os apóstolos, nem o são os ministros fiéis de hoje; mas o perverso coração humano, que é inimigo de Deus e que teme a luz da palavra de Deus (Jo 3.19; Rm 8.6).
Nossa queda em pecado foi tão profunda, que não entendemos a vontade de Deus. Julgamos que a lei de Deus é a causa da perturbação da paz. Recentemente ouvi um psicólogo dizer: “Temos que nos libertar das amarras do cristianismo, das leis, que só sabem dizer: Não, não, não! e são a causa de tantos problemas.” Jesus é julgado como perturbador da paz. Aquele que roubou a paz aos homens. Aqui Jesus toma sobre si todos os pecados da humanidade contra os Dez Mandamentos, especialmente contra a segunda Tábua da lei de Deus. Os nossos pecados contra o próximo perturbam a paz. Esses pecados têm crescido em intensidade nos últimos tempos. O apóstolo Paulo escreveu: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder (2 Tm 3.1-5). Nós já vivemos nestes tempos.
O tribunal eclesiástico e o tribunal civil condenaram Jesus à morte. O apóstolo Paulo diz: “Cristo me resgatou da maldição da lei (Gn 2.17; Ez 18.20), fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13). A lei de Deus precisou ser cumprida e a culpa paga, pois Deus é santo e justo. Jesus cumpriu a lei em nosso lugar e pagou a nossa culpa por seu sacrifício. Kyrie eleison! (Senhor, misericórdia).
Eis o homem... o Filho de Deus... o rei Jesus
Humilhado, coroado com uma coroa de espinhos, o corpo dilacerado pelos açoites, Pilatos apresentou Jesus ao povo e disse: “Eis o homem!” E a multidão gritou: “Crucifica-o! Crucifica-o!... Ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus... Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César!” (Jo 19.6,7,15). Pilatos estava visivelmente perturbado. Há algo de diferente nesse homem. Algo incomum. Não fez nada de mal. Ninguém pôde acusá-lo de um erro sequer. Ele se diz Filho de Deus. E tudo indica que ele o seja. A conversa sobre verdade e sobre o reino de Deus impressionou Pilatos profundamente. Mas sua razão não consegue harmonizar essas verdades. Seu reino! Sim, seu reino não é um domínio de força, não é luta por justiça social, não é luta por uma ética melhor, nem ecologia ou felicidade material, mas é paz no coração, paz com Deus, “uma paz que o mundo não pode dar” (Jo 14.27). É o reino da verdade (Ef 1.13; Jo 8.32). Pilatos procurou soltá-lo, mas temia por sua reputação junto ao povo, temia pelo seu trono. Finalmente entrega o Autor da Vida à morte. Tenta desculpar-se e lançar a culpa em outros, lavando suas mãos em água. Em vão! Não conseguiu paz de consciência. Ele estava diante do Salvador Jesus, do rei da paz, do autor da vida e o rejeitou. Alguns anos mais tarde perdeu o seu tão amado trono e morreu miseravelmente. Seu nome consta no Credo Apostólico para advertência a muitos que, como Pilatos, estiveram frente a frente com Jesus, no batismo, na confirmação, nos cultos, na santa ceia, mas terminaram amando mais as trevas do que a luz (Jo 3.19), vindo a perecer.
Contemplando as cenas dos dois julgamentos e observando as reações e o comportamento das pessoas envolvidas nesse episódio, bem como toda a crueldade contra Jesus, só nos cabe bater no peito e exclamar: Senhor tem compaixão de nós. Porque não há pecado na história da paixão de Cristo que de uma ou de outra forma não esteja também em nosso coração. Tudo isso Jesus tomou sobre si e sofreu em profunda humilhação, por ti e por mim. Ele disse: “Tu me deste trabalho com os teus pecados” (Is 43.24). E agora ele nos convida a receber dele o perdão, porque “o seu sangue nos purifica de todos os pecados” (1 Jo 1.7).
Oremos humildemente: “Eu, eu e meu pecado havemos motivado a tua grande dor, os murros violentos, mil outros sofrimentos, que te enchem a alma de pavor” (HL 94.4). “Oh! Não seja em vão, Senhor, teu martírio expiador!” (HL 81)
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