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quarta-feira, 15 de junho de 2022

SERMÃO ; JESUS É O SENHOR DA LEI!!

 

Sermão para o 2º Domingo após Pentecostes

Leituras: Sl 81.1-10    Dt 5.12-15      2 Co 4.5-12     Mc 2.23-3.6

Tema: Jesus é o Senhor da Lei!

       O texto de Marcos lido hoje, reúne parte dos conflitos de Jesus e seus discípulos com os fariseus e escribas. Certamente Marcos acolhe esse material para promover o debate diante do poder ideológico dos que interpretavam e manipulavam as leis.

       A polêmica do nosso texto é a santificação do sábado, as versões diferentes da interpretação dessa lei. Os discípulos de Jesus foram flagrados pelos fariseus colhendo espigas (de trigo) no sábado (v. 22).

       Os fariseus denunciam Jesus e seus discípulos por fazerem o que não é lícito no sábado (v. 24). A lei proibia a colheita no sábado conforme Dt 5.12-15. Para os fariseus o preço desse erro de Jesus e seus discípulos é a morte (Mc 3.6).

       Nunca lestes...? pergunta Jesus aos conhecedores da lei (v. 25). Jesus interpreta o Antigo Testamento e compara a sua situação e a dos seus discípulos com o que aconteceu a Davi e seus companheiros.

       A situação de fome, de Davi e seus companheiros sobrepôs-se à lei. A necessidade gerou a liberdade de ação de Davi: exigir e comer os pães sagrados mesmo não sendo lícito (v. 26). Fica subentendido que a fome dos discípulos é suficiente para justificar a ação de colher no sábado.

       Jesus desafia os fariseus e a hegemonia ideológica deles e de outros grupos dominadores: escribas, sacerdotes, herodianos, etc.

       Trabalhar no sábado não pode, mas matar pessoas pode? A interpretação da lei tinha a função de justificar poderes dominadores desses grupos religiosos organizados.

       Cabia ao povo, abaixar a cabeça e dizer sim para a lei conforme a interpretação desses grupos, mesmo que esse cumprimento ceifasse a vida. O absolutismo como critério para a interpretação era o mecanismo de poder usado pelos fariseus e escribas para subjugar as demais pessoas.

       Os critérios de Jesus para a interpretação da lei são diferentes. As novas versões de Jesus para a lei questionam o consenso ideológico em prática, defendido e articulado principalmente pelos fariseus.

       O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado (v. 27). Marcos é o único a apresentar este provérbio. É o dito central em nosso texto. Na interpretação de Jesus o sábado é dádiva, um dom de Deus, em benefício ao povo.

       A vontade e a necessidade dos discípulos de comer o trigo é maior do que a lei do sábado. Esta é uma nova versão do que é lícito ou não, na interpretação de Jesus para a lei do sábado.

       Não o diminui, nem promove a desobediência ao mandamento de Deus. Dá aos pobres, aos famintos a liberdade de também no sábado comerem, viverem.  Marcos aponta para a autoridade de Jesus, o Filho do homem. QUEM É DONO DO SÁBADO? O próprio Jesus, portanto ele sabe do que fala.

       ... o Filho do homem é senhor também do sábado (v. 28). Jesus se declara capacitado para dar a interpretação correta da lei do sábado.        Arroga para si o poder de manifestar a vontade original da lei de Deus para evitar a sua inversão. Para os escribas e fariseus somente Deus tinha esse poder sobre a lei. Podemos até dizer que Jesus chama para si o controle ideológico da lei, uma espécie de resgate do verdadeiro sentido da Lei.

       Temos aí a valorização da presença histórica de Deus no mundo através de Jesus, o Filho do homem. Aquele homem Jesus, cercado dos seus seguidores, agora é apresentado como quem tem autoridade para resgatar o objetivo original da lei: facilitar a festa, matar a fome, romper o domínio de poucos, impedir a injustiça, abrir caminho para a cura de pessoas, a liberdade e a vida – sendo sábado ou não.    Assumir a presença histórica de Deus através de Jesus significa estar atento para novos caminhos, novos critérios de entender a Lei, nova vida, não subjugada pela Lei, mas de liberdade em Cristo Jesus.

       O texto aponta para o poder de Jesus de resgatar o objetivo do sábado. Ele foi criado para nós. Não somos escravos do sábado e da lei.        Jesus assume a ação histórica de Deus de resgatar a liberdade.        Concluímos, então, que o texto desafia para o questionamento da manipulação humana da vontade de Deus, seja pela interpretação errada da palavra da Bíblia ou por experiências concretas e históricas de cumprimento de Lei.

       E, ainda, aponta para o anúncio do senhorio de Jesus, Deus conosco que, através do seu ato salvífico e de suas ações históricas concretas, oferece critérios novos para determinarem a luta da vida no dia-a-dia. Todos os dominados pela lei, por mandamentos e normas de ordem eclesiástica ou civil, encontram em Jesus critérios de liberdade na luta pelos direitos vitais.

       Baseado neste texto, podemos questionar a segmentos econômicos e políticos da sociedade que exercem poder nefasto, destruidor, especialmente sobre as camadas exploradas da população. Interpretam e manipulam as leis com rigor. E, de maneira casuística, colocam-nas em vigor conforme a sua conveniência.

       Refiro-me a ações judiciais (a justiça brasileira, aproveitando a paralização dos caminhoneiros – lançou multas sobre empresas transportadoras de aproximadamente 300 milhões de reais e com ameaças de fechar ou tirar os bens dessas empresas caso não paguem a multa -  não se perguntando quantos empregados perderão seu emprego), leis do mercado econômico e financeiro que as autoridades nos impõem (impostos exagerados), programas da justiça eleitoral (somos livres mas somos obrigados a votar), ações legislativas e executivas e assim por diante.

       Diante disso, podemos anunciar os critérios novos de Jesus, a presença viva de Deus na história e em nosso meio. Com esse anúncio podemos facilitar as práticas comunitárias e o apoio a todas as iniciativas da população que, em seus movimentos e interferências na sociedade, tomam como critério a vida e as necessidades das crianças, doentes, idosos, jovens, estudantes, trabalhadores, etc.

       Também no meio religioso e cristão, existem falhas e aberrações praticadas pelas diferentes igrejas e religiões que usam leis e instrumentos normativos que escravizam os membros.                        E, em muitos casos, tais ações assumem função ideológica ampla, tornando-se aparelhos de todo o sistema diabólico que afasta a população do projeto e das obras de Deus.  EX: Há poucos meses, houve em nossa cidade um encontro numa igreja, chamado de seção descarrego, com uma tonelada de sal grosso para purificar aqueles que pagassem e mergulhassem naquele sal. Isto não é de Deus. Isto é diabólico.

       Neste caso anunciar a presença viva de Jesus Cristo a partir desse exemplo histórico que rompe com a escravidão da lei do sábado torna-se uma necessidade primordial. Podemos anunciar Jesus como quem tem autoridade para libertar as pessoas das propostas eclesiásticas escravizadoras, da teologia enganadora e do falar de Deus como manipulador.

       As igrejas que guardam o dia de descanso no sábado têm promovido insegurança nos cristãos que santificam o domingo. Esse tema é vivencial principalmente na cidade. Não podemos fugir dele. Ao contrário, devemos assegurar que as reflexões de hoje sobre o dia de descanso contemplem os critérios de interpretação da lei apresentados por Jesus no texto de Marcos.          Para isso, importa resgatar a amplitude teológica e traços históricos do sábado e do dia de descanso.

       Temos uma dívida enorme com o sábado. O catecismo usado na Igreja Evangélica Luterana no Brasil (IEEB), por exemplo, traduz o mandamento do sábado como: santificarás o dia de descanso. Pressupõe que o domingo engoliu o sábado sem deixar história. Mas não é assim.

       O sábado, diante do que Jesus fala, deve ser entendido como a conclusão da criação. Esta conclusão se dá através da presença repousante do criador na criação. Esta presença de Deus é a primeira revelação de Deus na sua criação; não é uma revelação criadora, mas repousante, não indireta e intermediada, mas uma revelação direta. (J. Moltmann, p. 408.)

       No Decálogo, o mandamento do sábado é o mais longo. Trata-se de um dia sem trabalho, de não fazer nada, a cada período de sete dias. O fazer nada inclui a todos, os animais e toda a criação de Deus. No sétimo dia, a criação é semanalmente restaurada e festejada (J. Moltmann, p. 410).

       A celebração cristã relacionada com a ressurreição de Jesus surgiu entre os gentios, que não cumpriam a Lei judaica, e no século 2 instituído oficialmente para todos.

       No início o domingo de hoje não tinha nome próprio — na contagem judaica: primeiro dia da semana (Ap 20.7; l Co 16.2; Mc 16.2; Jo 20.1,19).

       Recebeu o nome domingo, em oposição do culto ao deus sol. No início os cristãos judaicos observavam o sábado e na noite do sábado para o domingo reuniam-se em comunidade para celebrar a Santa Ceia. Na manhã de domingo celebravam os batismos em homenagem a ressurreição de Cristo.

       Após o concilio dos apóstolos (At 15.5; Gl 4.8; Cl 2.16s.) os gentios tornavam-se cristãos sem a necessidade de observarem a lei judaica.  

       A celebração da ressurreição de Jesus, a partir daí, separou-se do sábado. A destruição do templo de Jerusalém e a proibição do imperador Adriano de observar a lei judaica contribuíram para o fortalecimento da festa dominical e para o distanciamento do sábado em sua dimensão fundamental. Com o imperador Constantino, a partir de 312, o domingo transformou-se no dia de descanso reconhecido pelo Estado.

       Os cristãos precisam resgatar e devolver ao dia de descanso a obra da criação de Deus, o descanso de Deus e o descanso de tudo e de todos na presença de Deus. Nesse resgate entra a importância do texto de Mc 2.23-28.

       Jesus não aboliu o sábado. Apresentou-se como senhor também do dia de descanso. Devolveu ao sábado a liberdade: ele foi criado para o bem das pessoas, não para escravizar as pessoas. Jesus resgatou para os necessitados e famintos, para os subjugados pelas leis humanas, o acesso aos direitos vitais. Ele indicou: na festa do dia de descanso, não pode faltar o pão, não pode faltar comida.

       Portanto, diz o Apóstolo Paulo, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. 1 Coríntios 10:31-33

       Em Cristo somos livres para fazer o bem sempre, sendo sábado, sendo domingo ou outro dia qualquer. Porque Cristo é o Senhor da Lei e por isso nos libertou da escravidão da Lei. Amém.

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