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sábado, 20 de agosto de 2022

Sermão para o 11º Domingo após Pentecostes

 

Textos: Sl 34.1-8     1 Rs 19.1-8         Ef 4.17-5.2       Jo 6.35-51

Tema: Vivamos a nova vida!  

       Allen Thompson, coordenador na Missão da Igreja  dos EUA, adotava um princípio simples na seleção e recrutamento de missionários. Ele procurava pastores experientes, ao invés de jovens pastores, baseando-se no princípio de que já haviam sido testados e por isso  eram capazes de realizar a tarefa. Ele afirmava que “A melhor forma de saber como as pessoas serão, é observando quem elas foram”.

       Naturalmente se referia aos dons, padrões de comportamento, estratégias, áreas de fraqueza e talentos, etc. seguia o princípio de um antigo ditado inglês: “Hábitos arraigados são duros de morrerem”. Pessoas possuem padrões de comportamentos nada fáceis de serem quebrados.

       Na carta de Paulo aos Efésios, o apóstolo está descrevendo a nova sociedade que Cristo estava criando em si mesmo. Nos primeiros 4 capítulos ele demonstra o que Deus fez pela igreja. Sua escolha livre e soberana em preparar um povo para sua exclusiva autoridade, e que o Espírito Santo estava agindo na vida deste rebanho para torná-lo um povo santo.

       No capítulo 2 ele descreve a trágica situação da raça humana e como Deus na sua misericórdia  e graça, sem qualquer mérito humano, nos deu vida e nos fez assentar em lugares celestiais.

       No capítulo 3 descreve o plano universal da igreja, colocando a sua igreja, como centro do mundo.

       No capítulo 4 afirma que esta nova sociedade, criada segundo Deus, só é capaz de realizar tal obra, porque o Espírito Santo concede os dons para o exercício da tarefa.

       Fala das implicações práticas de estar em Cristo e como a ação do Espírito Santo tira o homem de um estilo de vida para outro, saindo de uma vida de corrupção e decadência para uma vida de santidade e identificação com a natureza do próprio Deus.

 

       Em Ef 4.17, o texto que lemos, ele afirma: “Isto, portanto, digo”. Em termos práticos é como se ele estivesse dizendo: “Considerando o que Deus fez por vocês, eis o que vocês devem fazer e como devem viver”. Ele fala do andar do homem criado em Cristo, e contrasta sua situação com a do homem sem Deus, cuja natureza não foi regenerada pelo Espírito de Deus.

       A primeira exortação do vs 17 é não mais andeis como andam os gentios”.  Gentio era uma referência às pessoas que não eram judias, e viviam longe das profecias bíblicas e nada sabiam das coisas de Deus. Numa linguagem mais moderna diríamos se tratar dos não cristãos,  cujo estilo de vida secular é completamente diferente da vida de um cristão.

       O não cristão é alguém que desconhece as verdades Bíblicas e não tem identificação com Deus. Não sente atração pelas coisas espirituais e por isto temas como oração, arrependimento, busca do Senhor, adoração, não fazem qualquer sentido para sua vida.

Os versículos seguintes descrevem como vive um homem sem Deus:

1.  Na vaidade de seus próprios pensamentos – ((Ef 4.17)

       O termo vaidade deve ser traduzido como algo vazio. Futilidade talvez seja a palavra adequada. O estilo de vida de um homem afastado de Deus é fútil, vazio, sem consistência.

       O homem sem Deus é fútil em seu pensamento porque não o considera em seus caminhos. Seu viver é vazio e sem sentido.

       Paulo roga aos cristãos que não vivam mais assim. Isto nos leva a pensar que mesmo depois de convertidos, podemos viver neste estilo de vida vazio, e termos uma mente frívola. A igreja corre o risco de viver assim, voltando aos velhos padrões de futilidade de uma sociedade pagã, numa vida sem respeito, sem bons modos.

       É importante considerar isto na quantidade de depressão e ansiedade no meio cristão. Será que isto não tem a ver com nosso estilo fútil de viver? Fazemos viagens cada vez mais caras, compramos perfumes cada vez mais sofisticados, roupas mais extravagantes, vamos a restaurantes luxuosos, temos carros maravilhosos, mas apesar disto continuamos vivendo com o coração vazio e infelizes. Este é um estilo de vida próprio do homem sem Deus.

2.  Obscurecidos de entendimentos – (4.18)

       A segunda característica tem a ver também com a forma de pensar e considerar as coisas. No que concerne às coisas espirituais, o entendimento do homem pagão é cego.  Temos visto homens intelectualmente bem formados, mas a visão sobre Deus é um fracasso.

       Na carta aos Romanos, Paulo descreve este homem confuso na sua espiritualidade:Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram, nem lhe deram graças, antes se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos” (Rm 1.21-22).

       O livro de Provérbios afirma que: “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. O homem sem Deus torna-se confuso na sua forma de raciocinar porque exclui o fundamento que é o próprio Deus. Toda a filosofia contemporânea exclui Deus do sistema, toda ciência moderna tende a ignorar o criador. Torna-se assim obscurecida de entendimento.

3.  Alheios à vida de Deus por causa da ignorância – (Ef 4.18)

       Para o homem não cristão, as coisas espirituais não fazem parte do seu estilo de vida e comportamento. Deus é alguém distante de sua realidade e não faz sentido profundo de fato. Por isto, caminhar com Deus, orar, ler a Palavra, cultuar a Deus não se torna importante. Sua vida está distanciada de Deus.

       O texto bíblico afirma que isto acontece por causa da ignorância em que vivem (Ef 4.17). Paulo descreve como era a nossa vida antes do encontro com Jesus: “ Estávamos separados de Deus, estranhos à aliança da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo (Ef 2.12-13).

4.  Corações endurecidos (Ef 4.18).

       O resultado disto é trágico. Os afetos são profundamente tocados, e as emoções se tornam rígidas e endurecidas. As coisas de Deus não provocam reações no coração daquele que vive longe de Deus. O pecado embrutece o homem e o torna violento.

       Talvez tenha sido esta a razão de Davi ter orado a Deus, depois de ter tomado decisões precipitadas e pecaminosas. “Cria em mim, oh Deus, um coração puro, e renova dentro em mim, um espírito inabalável” (Sl 51.10). Ele percebe o risco de seu próprio coração, e desesperado volta-se para Deus para recuperar a sensibilidade. Um coração puro contrasta com um coração endurecido no erro e no engano.

       Dentre as promessas que Deus faz ao seu povo, uma das mais encantadoras encontra-se no Antigo Testamento: Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós, espírito novo. Tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne (Ez 36.26).

       Coração para os antigos era o Sistema Nervoso central. Deus promete dar coração de carne e tendões ao povo cujo coração estava seco e sem vida, como uma pedra. Deus promete dar sensibilidade àqueles  que se encontram amortecidos e sem esperança. Deus põe tendões, e faz o corpo amortecido reagir. Carne é ter sensibilidade, prazer, gosto, vida, relacionamentos.  Nervos são sentimentos, manifestações de amor.

Qual a consequência de um coração endurecido?

       O texto bíblico vai descrevendo que se trata de um processo. Afastamento de Deus afeta a forma de pensar e os sentimentos. O resultado no convívio com as pessoas é trágico:

A.  Perda de sensibilidade – Tendo-se tornado insensíveis” (Ef 4.19) Corações endurecidos perdem a capacidade de sentir, tornam-se embrutecidos e animalizados. Deus quer nos dar um coração novo, para que não se perca a sensibilidade.  A Bíblia relata, e na vida real vemos pessoas que tiveram suas consciências cauterizadas pelo erro e pelo engano (1 Tm 4.2). O resultado é apatia, indiferença e depravação moral.

       Muitas vezes temos que dizer sinceramente a Deus: “Cria em mim, oh Deus, um coração puro, e renova dentro em mim, um espírito inabalável”. Davi não estava orando por sua salvação, mas por algo muito sério: Por sensibilidade. Quando afirma “restitui-me a alegria da tua salvação, para que exultem os ossos que esmagaste” ele está clamando para que a normalidade divina se torne novamente uma realidade em sua vida. Viver em pecado gera endurecimento e perda de sensibilidade espiritual.

B.  Dissolução – Tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução (Ef 4.19). A mente distanciada de Deus torna-se embrutecida e seu resultado imediato é a depravação moral. Sem Deus, o homem se envolve numa vida de pecado e perde o senso de santidade, perde também a vergonha.  O termo “impureza” vem de porneia (pornografia), termo que abrange todas as áreas do desequilíbrio na área sexual, atingindo a ética, os negócios, a família e o dinheiro.

       Com o endurecimento do coração, o homem se torna ávido e obcecado pelo pecado. Sua mente o leva à impureza e à devassidão.        Equivocadamente pensamos que a decadência moral é um problema da nossa geração, mas a Bíblia demonstra que é o resultado do homem sem Deus em todas as gerações. O apóstolo Pedro afirma que naqueles dias, muitos pagãos difamavam os cristãos e estranhavam que não andavam mais com eles, no mesmo excesso de devassidão (1 Pe 4.4). Na sua segunda carta fala daqueles que: Seguindo a carne, andam com imundas paixões e menosprezam qualquer governo” (2 Pe 2.10).

       A partir do vs. 20, O apóstolo Paulo orienta para um novo modo de vida a partir de Cristo.  Este novo estilo de vida se encontra disponível em Cristo: “não foi assim que aprendestes a Cristo”. A partir de então, fala do novo homem, e de um estilo de vida gerado em Cristo.

       A proposta de Deus para o seu povo é de um estilo de vida que edifica:

        Despojamento do velho homem – (Ef 4.22) O termo “despojar” é um termo militar. Quando os soldados iam para a guerra, assim que obtinham vitória sobre os inimigos, tiravam deles toda a indumentária,  armas, e bens.

          O texto nos ensina que a obra de Jesus em nós, inclui na retirada do poder do pecado. Estas armas precisam ser retiradas porque este velho homem se corrompe “segundo as concupiscências do engano”.

       Concupiscência” é outro termo que precisa ser explicado. Trata-se de um desejo pervertido, estragado.

       A verdade é que todas as máscaras do diabo são bonitas, mas todas elas levam a morte eterna. Satanás nos seduz e perverte a beleza da criação de Deus.

       A beleza do corpo feminino, ou para as mulheres, do homem, se torna uma provocação quando olhado com mente pervertida.

       O prazer de comer se torna glutonaria, quando não soubermos nos controlar.

        Degustar um bom vinho pode ser a porta aberta para a bebedeira, quando deixarmos a bebida nos vencer.

       E assim por diante. O bem se torna mal. Há na alma humana uma tendência à perversão para estragar as coisas mais belas de Deus. Concupiscência é este desejo estragado.

       Para que a concupiscência não domine nossos olhos, precisamos lutar contra um monstro que reside dentro de nós. Esta velha natureza caída, que precisa ser restaurada em Cristo.

       O princípio mais eficaz contra esta velha natureza é não alimentá-la, mas enfraquecê-la pela inanição. Por isto há uma exortação clara na carta aos Romanos: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14).

       Não podemos alimentar nem dar força à velha natureza. É necessário “despojar” e retirar suas armas. Isto consiste num processo diário de arrependimento e conversão. E cá pra nós: Quantos estão alimentando com vontade esta velha natureza corrompida, ao invés de fazê-la perecer com todos os pecados e maus desejos?

        Renovação do entendimento – (Ef 4.23) Quando somos alcançados por Cristo, não podemos continuar com o mesmo estilo de vida.

       Vida cristã implica num novo pensar. Vos renoveis no vosso entendimento”. Se a mente não mudar, nossas atitudes não mudam. Cristianismo aponta para uma obra interna e profunda do Espírito Santo.        Muitas vezes achamos que com controles externos se revolve o problema dos impulsos internos. Biblicamente isto é impossível. Não se pode ensinar elefante a dançar balé, assim como não é possível adestrar girafas para andar de skate. São coisas impossíveis, como é impossível uma natureza humana, afastada do Criador, ter uma ética cristã.

       Paulo demonstra o que ocorre no ser humano, quando o poder do Evangelho de Cristo lhe alcança:” E assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas(2 Co 5.16,17).

      Tome cuidado com sua antiga natureza. Ela precisa ser despojada. Não a alimente, não lhe entregue as armas de outrora. A obra do Espírito Santo em nós é nos fazer um novo homem e nos dar um novo estilo de vida.

          Encher-se do Espírito significa em movimentos contínuos: fazer morrer a velha natureza, revestir-se do novo homem criado em Cristo Jesus.

       Rejeite o pecado, achegue-se a Deus. Despojem o velho homem, revistam-se do novo homem, criado segundo Deus – Não mais amoldado às paixões da carne, não mais alheios à vida com Deus, mas sendo diariamente transformados por Deus, para se parecerem com este Deus.

       Criado em justiça e retidão procedentes da verdade, sendo revestidos do Espírito Santo.

       Por isto, precisamos nos revestir deste novo homem. Adotar uma nova roupagem, retirar as roupas e armas do antigo homem. Não alimentá-lo com as paixões, concupiscências, promiscuidade e impureza, mas deixar-se transformar pela maravilhosa obra de Deus em nós, neste maravilhoso processo de nos fazer um novo homem, uma nova criatura.

       Quando entendemos o que Deus está fazendo em nossa história, e o propósito de amor que ele tem para nossa vida por meio de Cristo Jesus, não mais podemos viver como vivem os pagãos. Deus, em Cristo, nos deu vida, e nos fez assentar nos lugares celestiais. Como podemos ainda continuar vivendo neste antigo estilo de vida, depois que entendemos tudo o que Deus já nos deu? “Por isto vos digo, não mais andeis como andam os gentios, na vaidade de seus próprios pensamentos... mas andem como novas criaturas, revestidas de Cristo”. Amém.

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