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sábado, 3 de setembro de 2022

Sermão para o 13º Domingo após Pentecostes

Textos: Sl 34.12-22   Pv 9.1-12    Ef 5.6-21      Jo 6.51-69

 Tema: A quem seguiremos?

       Nosso texto encontra-se inserido no bloco que apresenta a atuação, e o ministério de Jesus na Galiléia, e estende-se desde Jo 6.1-71. Temos neste bloco o milagre da multiplicação dos pães e o consequente  saciamento da fome da multidão.

       Segue-se então o relato de Jesus andando por sobre as águas ao encontro dos discípulos. O momento seguinte é um discurso de Jesus em que Ele se apresenta como pão da vida. Após este discurso, segue-se a murmuração dos judeus, com um novo discurso. Nos vv. 60-69 o tema é a murmuração dos próprios discípulos de Jesus, os quais reagem frente ao discurso do mestre.

       Até que ponto estamos nós realmente dispostos a ouvir e aceitar os ensinamentos de Jesus? Até onde vai nossa fidelidade ao Mestre?        Queremos verdadeiramente seguir seu ensino, seu exemplo de vida e doação, ou buscamos tão-somente palavras que nos façam sentir-nos bem?

       Felizes são aquelas pessoas que buscam viver o evangelho em todas as suas dimensões e implicações.

       A exemplo do que faz Jesus com os doze, também nós estamos sendo interpelados por Jesus e levados a tomarmos uma decisão em favor ou contra Jesus. Qual será  a nossa decisão?

       A murmuração no texto em questão está relacionada às palavras de Jesus referentes à Santa Ceia, o pão da vida. Contudo, há outros aspectos em sua pregação que são motivo de escândalo e conflito com seus ouvintes, por exemplo: o mandamento do amor ao próximo; dar a outra face; orar pelos inimigos, repartir os casacos, se tivermos dois ou mais, e o outro não tiver um só, etc.

       A mensagem de Jesus, sobre o pão da vida, a Santa Ceia,  escandaliza os seus ouvintes e sofre resistência; por muitos é mesmo rejeitada.

       A exemplo dos discípulos que deram as costas a Jesus, em nossas comunidades também podemos encontrar pessoas que acham as palavras de Jesus duras demais. Deveríamos nos questionar se muitas vezes a proposta de Jesus também não escandaliza a nós.

       No mercado religioso, a palavra da cruz está em desvantagem. Pregações mais cômodas são mais atraentes. Pregações que prometem prosperidade, solução milagrosa para problemas os mais diversos, são mais agradáveis aos ouvidos da grande maioria.

       Neste contexto, a palavra da cruz é loucura e estamos na contramão. Cabe, porém, lembrar que sucesso ou fracasso, neste caso, são muito relativos.

       Ouçamos um desabafo do Reformador Martinho Lutero, há 500 anos, ao comentar a pregação do Dr. Nicolaus: “Ele jogava com muitas alegorias e interpretações espirituais, e é disso que o povo gosta. Se é assim eu também posso ser mestre. Mas quando se prega sobre a justificação, o povo fica dormindo e tossindo, mas quando se começa a contar histórias e exemplos, esticam as duas orelhas, ficam quietinhos e prestam atenção. Acho que, em matéria de contar historinhas, ou piadinhas para  amenizar a Palavra de Deus, muitos pregadores entre nós, me botam no chinelo, diz Lutero. Mas quando se trata da doutrina bíblica verdadeira, estes mesmos pregadores se borram de medo e fagem.1

       Quantas vezes também nós não percebemos durante a pregação pessoas cochilando, olhares de desaprovação, risadinhas, meneios de cabeça? Então nos julgamos um fracasso, maus pregadores. Jesus experimentou rejeição, desaprovação, mas prosseguiu, pois estava convicto de sua fidelidade ao Pai.

       Lutero em sua época definiu de forma irônica o perfil do pregador desejado pelas multidões: O pregador, como o mundo agora o quer, diz Lutero, deve ter as seis seguintes características: 1) ser erudito; 2) ter boa pronúncia; 3) ser eloquente; 4) ter boa aparência, para ser amado pelas mocinhas e senhoritas; 5) não aceitar, mas ainda por cima dar dinheiro; 6) falar aquilo que o pessoal quer ouvir.2  

      Esse tipo de pregador, Jesus classificou como mercenários. Mercenários porque não cumprem a ordem de Cristo de anunciar o evangelho como nos foi passado pelo nosso Senhor Jesus.

   Prédicas suaves, adornadas com belas palavras, que evocam sentimentos agradáveis, que dizem aquilo que as pessoas querem ouvir, têm maior receptividade. Mas, muitas vezes, pecam na fidelidade para com o evangelho, levando as pessoas a uma fé falsa.

          Muitos dos seguidores de Jesus, daquela época, se escandalizaram com as suas palavras, consideradas por eles como pesadas para serem aceitas.  

       Antes, quando Jesus, pela sua Poderosa Palavra, multiplicou os 5 pães e os 2 peixes e alimentou mais de 5 mil pessoas, o povo vibrava e queria seguir Jesus.

       Agora, as palavras que são espírito e vida, para o ser humano, são motivo para escândalo. Muitos, dos que se alimentaram do pão e peixe multiplicado, agora o abandonam e não o seguem mais, porque se escandalizaram com a pregação de Jesus.

     É, povo de Deus, o caminho da cruz não é fácil, e são poucos os que o podem suportar. A mensagem de Jesus sofre resistência e é rejeitada mesmo por seus seguidores.

       Jesus volta-se agora para os doze apóstolos. Trata-se de um grupo distinto. Os doze são o grupo que goza de maior intimidade com o Mestre, estão mais afinados com sua mensagem. Jesus os provoca: Vocês também querem me deixar? Jesus lhes oferece a liberdade de escolher: ou ficam com ele, ou vão com os outros. Teriam suas palavras ofendido também aos doze?

       Como em outras oportunidades, Pedro assume o papel de porta-voz do grupo. A resposta dele é dada em forma de pergunta: Para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna, tu disseste que tuas palavras são espírito e vida. Nós cremos, como poderíamos deixar-te? A quem haveríamos de seguir senão a Ti, o Santo de Deus? A confissão de Pedro mostra um apego pleno à pessoa de Jesus.

       E nós, para quem iremos? Senhor, somente a ti seguiremos, tu tens a vida eterna. Tu és o nosso Salvador. Amém.

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