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terça-feira, 4 de setembro de 2012

REFLEXÃO PARA SEMANA DA PÁTRIA

DEUS AMA O BRASIL? ( Atos 10.34-35)
Israel Belo de Azevedo
 
     É muito comum ouvirmos a expressão de que Deus é brasileiro, às vezes como anedota e às vezes como admiração. Será?
     Na antiguidade, os hebreus achavam que Deus era hebreu. Pregando aos seus ouvintes da cidade de Cesareia, para onde se deslocara, vindo de Jerusalém, distante 60 quilômetros, na casa de um militar italiano, de nome Cornélio e que o mandara buscar, Pedro reconheceu, mudando sua perspectiva: "Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo" (Atos 10.34-35 -- NVI).
     Uma revelação divina lhe convencera que Deus ama a todas as pessoas independentemente do seu país de nascimento, que podemos ampliar para: independentemente da cor da sua pele, da sua condição econômica ou da sua ilustração intelectual. Deus é apaixonado por todos os seres humanos.
     Deus se interessa pelas nações. Interessa-se e muito. A Bíblia é a história deste interesse. A própria "conversão" de Pedro a uma visão universalista e não nacionalista mostra este interesse. Deus quer que, no interior dos países, pessoas se importem com a justiça, para o bem dos habitantes destes países. Deus ama a justiça e odeia a iniqüidade (Salmo 45.7) É por isto que Deus "com retidão julga os necessitados, com justiça toma decisões em favor dos pobres" (Isaías 11.4).
     Deus odeia os que praticam o mal (Salmo 5.5), em todas as suas formas:
"Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta:  olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos" (Provérbios 6.16-19).
     É contra estas práticas que Deus odeia (e, quando Deus "odeia", Deus não odeia num sentido moral, mas emocional: ele sente tristeza com as escolhas humanas, fora de seus projetos de bem e de paz para o ser humano) que devemos lutar, no plano pessoal, comunitário e nacional. Na verdade, estas nossas ações compõem o arco de tarefas do verdadeiro civismo. Estamos diante de um elenco de compromissos relacionados à cidadania. Civismo e cidadania são sinônimos e têm a ver como uma forma de viver numa cidade, pensada como a nação antes do surgimento dos chamados estados nacionais, que são coisas modernas.

     Há alguns compromissos, portanto, que precisamos assumir para ter uma pátria onde se possa viver com tranqüilidade e dignidade.


     1. Devemos orar por nossa pátria.     A recomendação está na Bíblia: "Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem
ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela’ (Jeremias 29.7). Quando a Bíblia nos aconselha a orar pela paz da cidade, aconselha-nos a orar, nos termos da organização moderna, pela paz de nossa pátria. É assim que devemos ler a recomendação feita por intermédio de Jeremias: Não pode ser outra a verdade, em qualquer tempo e em qualquer nação: "Pela bênção dos justos a cidade é exaltada, mas pela boca dos ímpios é destruída" (Provérbios 11.11).
     O interesse de Deus é que haja justiça em nosso país. Ele mesmo nos diz que "o governante sem discernimento aumenta as opressões" (Provérbios 28.16).
     Neste contexto fica claro porque devemos orar "pelos reis e por todos os que exercem autoridade": é "para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade" (1Timóteo 2.2) Orar pelos dirigentes é orar pela pátria.
     Reis e autoridades atuam dentro de limites geográficos. A razão de ser da existência deles é prover para todos uma vida tranqüila e pacífica. A partir do momento em que falham, devem ser substituídos, seja pelo voto ou pelo "impeachment". Em caso extremo, quando os dirigentes se tornam predadores, pela revolução. Não devemos idolatrar os dirigentes nacionais, mas orar por eles para que façam bons governos. A história do Brasil é a história de políticos predadores; por isto, não
somos a potência que poderíamos ser. Os políticos predadores existem por falta de vergonha deles, mas também por não sermos os cidadãos que precisamos ser.
     Como escreveu um médico recentemente, também "desconfio que a desgraça que nos assola resulte de uma coreografia insana que mistura uma histórica desigualdade social, governos descomprometidos com a condição humana e ações nefastas de um sem-número de oportunistas que tomaram de assalto, espraiaram-se e passaram a consumir o Estado". (Miguel Srougi, na Folha de S. Paulo, de 6.9.2009)

     2. Devemos promover a justiça em nossa pátria.     A verdadeira cidadania é aquela que prima pela justiça nas relações pessoais, promove a justiça nas relações comunitárias e luta pela justiça na vida nacional.
     Um país justo é feito de pessoas justas.
     Uma pessoa justa não tolera a corrupção, esse cancro de classe mundial.
     Uma pessoa justa não tolera a desigualdade; antes, deseja um país com oportunidades iguais para todos.
     Uma pessoa justa não tolera a violência, começando no recôndito do seu lar.
     Muitas vezes somos capazes de desejar que o nosso país seja o que nós não somos. Quando vejo um sofá jogado no leito de um rio, posso
imaginar que quem fez isto é capaz de participar de uma passeata em defesa do meio ambiente. Lembro-me da história da jornalista Délis Ortiz chegando ao Rio de Janeiro de táxi. Depois de ouvir o taxista desancar os ladrões de Brasília e propor um dia sem corrupção, ela o corrigiu forte: "Veja como são as coisas, seu moço. O senhor veio de lá aqui destilando a ira de um trabalhador honesto. No entanto, se aproveitou do fato de eu não saber andar na cidade, empurrou uma bandeirada, andou acima da velocidade permitida, furou sinal, deu voltas, fingiu que me deu o troco certo e diz que não tem nota fiscal! (...) O senhor acha mesmo que ladrões são aqueles que estão em Brasília? Que diferença há entre o senhor e eles?" (ORTIZ, Delis. A cara do Brasil. Disponível em )

     3. Devemos amar a pátria em que nascemos.
     Sim, Deus não é brasileiro, como não é japonês ou judeu. De fato, Deus não define as chamadas fronteiras nascimento, que é tarefa humana, essencialmente humana. A utopia humana fala de um mundo sem fronteiras entre as nações. Assim mesmo, as nações existiriam, só que sem barreiras à entrada e saída nelas. Deus não define fronteiras, mas nós nascemos numas. Se aqui é o nosso lugar, façamos deste lugar um lugar decente.
     Deus não é brasileiro, mas nós podemos ser brasileiros. Podemos ser porque nem todos os que nasceram aqui são efetivamente brasileiros, porque brasileiro é aquele que faz a sua parte para que este país seja grande.
     Nós devemos ter "orgulho" de nossa pátria, não porque seja melhor que as outras, não porque seja mais amada por Deus dos que as outras, mas porque nascemos aqui. Faz parte de nossa história. Amá-la é amar a nós mesmos.
     Nós podemos e devemos amar a nossa pátria, que cada um de nós tem o dever de torná-la melhor para si e para os outros.
     Não dá para amarmos o mundo inteiro, mas podemos amar a nossa pátria.

     4. Devemos buscar o progresso de nossa terra.
     Não dá para trabalhar pelo mundo inteiro, mas dá para trabalhar pela nossa pátria.
     Temos ouvido, de novo, que o Brasil se encaminha para se tornar uma potência mundial. Como escreveu o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, "nesta década estamos começando a reagir, a pensar em termos do grande país que somos". (BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Euclydes e identidade nacional. Disponível em )
     No entanto, nossos indicadores hoje, tanto econômicos quanto sociais, são péssimos. Em quase todos os quesitos, estamos na parte de baixo dos quadros estatísticos. Emprestamos dinheiro para o FMI. Saímos rápido da crise econômica mundial de 2008/2009. Temos o nono ou décimo PIB (Produto Interno Bruto) entre 180 países. Contudo, quando dividimos este PIB pela população (PIB per capita, como se diz), caímos para o 45º lugar. Quanto ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que mede itens como acesso à educação, expectativa de vida e distribuição de renda, a vergonha é grande, porque ficamos na posição 70, entre 75 dos países que são avaliados, à frente apenas de Cazaquistão, Equador, Rússia, Maurício e Bósnia e Herzegovina.
Seremos potência? Devemos querer ser potência?

     Uma nação em que vale a pena viver, potência ou não, constrói-se com temor ao Senhor.
     Precisamos de cidadãos que temam ao Senhor. Sem temor ao Senhor, o crescimento econômico é uma ilusão, que apenas vai ampliar o fosso entre ricos e pobres. Paulo chama a este temor, termo do Antigo Testamento, em piedade (1Timóteo 2.2). É a piedade que nos afasta dos interesses meramente pessoais.
     Uma nação em que vale a pena viver, potência ou não, promove, como programa de governos e famílias, os bons valores, que são, entre outros, o valor do RESPEITO um pelo outro (como pensado por Voltaire: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las"), da SOLIDARIEDADE para com o outro (como ensinou Madre Teresa de Calcutá, "os pobres que buscamos podem morar perto ou longe de nós. Podem ser material ou espiritualmente pobres. Podem estar famintos de pão ou de amizade. Podem precisar de roupas ou do senso de riqueza que o amor de Deus representa para eles. Podem precisar do abrigo de uma casa feita de tijolos e cimento ou da confiança de possuírem um lugar em nossos corações") e a PAZ nos relacionamentos (sabendo, como convida John Stott, "Deus é um pacificador. Jesus Cristo é um pacificador. Então, se queremos ser filhos de Deus e discípulos de Cristo, devemos ser pacificadores também")

     Uma nação em que vale a pena viver, potência ou não, é aquela em que há expectativa de vida para os seus cidadãos, expectativa que vem por meio da possibilidade de trabalho para os que podem trabalhar, da garantia do direito de ir e vir (segurança) e do oferecimento de sistemas de saúde e educação realmente universais.
     Queremos uma vida tranqüila e pacífica? Vivamos com toda a piedade e dignidade. (1Timóeo 2.2)

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