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terça-feira, 22 de abril de 2014

PROFETAS E LINCHADORES - REFLEXÃO

Publicado em: 21-abril-2014
Artigo do juiz de Direito Pio Giovani Dresch
publicado no jornal O Sul nesta segunda-feira (21/4).
     Não vou falar da tragédia de Bernardo, o menino que queria ser amado. Também não farei comentários mais detalhados sobre o caso, que acompanhei precariamente pelos noticiários, embora a cada dia venham mais e mais informações, que nos descortinam os acontecimentos e permitem ampliarmos nosso juízo acerca dos fatos.
     Quero falar de duas classes de pessoas, que se espalham aos milhares e formam imensas legiões, às quais não raro somos tentados a nos integrar.
     Os profetas do acontecido, cujo locus preferido são os veículos de comunicação, mas podem ser facilmente encontrados em cafés, salões de beleza ou na internet, sempre souberam que determinada coisa daria errado. Fossem eles, teriam feito diferente, e tudo evidentemente teria saído às mil maravilhas.
     O exemplo típico é o comentarista de resultados, aquele que, encerrada a partida, aponta todos os erros do técnico, causadores da inevitável derrota, como se fossem óbvios, embora não antecipados pelo próprio comentarista no momento em que ocorreram.
     Os linchadores da internet são um fenômeno mais recente, nascido com as redes sociais. São os vigilantes da moralidade pública, os guardiões de todas as virtudes, muitas vezes adeptos da teoria da conspiração. Para eles, vigora a presunção absoluta de que na esfera pública não existe decoro, mas só negligência e corrupção.
     O resultado desse anarquismo reacionário, que nega virtude a qualquer forma de poder, é o vazio, a desconstrução das instituições.
     A vida virtual dos linchadores é uma busca constante pela desgraça. Vivem da tragédia, porque legitima sua cruzada purificadora. Só com ela podem apontar o dedo acusador e começar o suplício. Depois, saídos da internet, voltam à sua vida sem virtudes, certos de terem praticado justiça, com a vantagem de manterem limpas suas mãos, porque virtual o linchamento.
     Muitos deles são igualmente profetas, outros se nutrem das profecias, sempre com a certeza de que toda tragédia é resultado de um misto de descaso e conivência, única maneira de explicar o fato de não ter sido realizado o óbvio, tão evidente para quem vê o passado com a onipotência de quem conhece os fatos.
     Volto à tragédia de Bernardo. Não se preocupam os linchadores em saber que qualquer juiz de família teria tentado recompor os laços com o pai, numa situação em que não havia notícia de violência, mas de ausência, porque isso não satisfaz sua necessidade de acusar. Se, todavia, o juiz tivesse imediatamente permitido o afastamento do filho de casa, por outros motivos seria linchado, acusado de promover a alienação parental.
     Não quero dizer que não houve erros, nem assegurar que tudo foi feito, mas o erro – se houve – é um risco inerente ao trabalho do juiz, que decide milhares de demandas, em que precisa avaliar riscos. Decisões de risco são tomadas todos os dias, e nas relações familiares, em que ameaças são corriqueiras, o mero afastamento, sem tentativas de reconciliação, seria uma prática desastrosa.
      Poderiam também ter sido tomadas outras medidas de investigação, mas isso dependeria, primeiro, da presença de indícios claros de risco e, segundo, de uma estrutura de apoio de que é notoriamente precária.
     Mas, nada disso interessa: os profetas do acontecido sabem exatamente o que deveria ter sido feito e os linchadores virtuais, devidamente informados, executam a pena sumária de justiçamento eletrônico dos acusados.
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      O que este juiz escreveu aplica-se: aos professores, pastores, agricultores.... todas as outras profissões, desde que não seja a minha.
      Quantas vezes somos nós achados dando uma de profeta e/ou linchador. Mas sempre depois que os fatos aconteceram. Reflita! Pense. Ajude a melhor o modo de vida das pessoas dando suas ideias antes que os fatos aconteçam. ( o que está em negrito são palavras do pastor Martinho F. Voss).
      

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