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domingo, 15 de janeiro de 2017

REFLEXÃO

ALGUM DIA QUANDO OS FILHOS TIVEREM CRESCIDOS!!!!
 
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, as coisas serão diferentes: a garagem não estará cheia de bicicletas, trilhos de trens elétricos fixados em tábuas, serrotes rodeados de pedaços de madeira, pregos, um martelo e serragem, “projetos experimentais” sem terminar e a gaiola do coelho. Poder-se-á estacionar ambos os carros na garagem, no seu lugar correto, e nunca mais tropeçar em skates, bicicletas fardos de papel (guardados para a campanha da escola), ou um pacote de ração de coelho.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, a cozinha estará incrivelmente limpa. O freezer estará livre de pratos pegajosos, o ralo da pia não estará entupido com chicletes ou clips, a geladeira não estará abarrotada com garrafas de refrigerante e leite, e não perderemos mais as tampas dos potes da geleia, do ketchup, da margarina, da maionese ou da mostarda. A jarra de água não será guardada vazia, as cubas de gelo não ficarão fora a noite toda, o liquidificador não ficará seis horas sujo de restos do lanche noturno e o mel permanecerá, incrivelmente, dentro do pote.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, minha esposa terá tempo de vestir-se com toda calma, de tomar um longo banho quente (sem três interrupções de pânico), de arrumar as unhas (até as dos pés se desejar) sem responder a uma dúzia de perguntas, de ir ao cabeleireiro à tarde sem tratar de aproveitar o tempo que sobra entre correr com um cão enfermo ao veterinário e levar ao dentista uma menina que está de mau-humor porque perdeu seu walkmann.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, o aparelho chamado telefone estará realmente disponível. Não parecerá que faz parte do ouvido de um adolescente. Estará colocado ali... silencioso e assombrosamente disponível. Estará livre de batom, saliva humana, maionese, migalhas de bolacha e palitos de dente presos nos seus furinhos.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, serei capaz de enxergar através das janelas do carro. As impressões digitais, as lambidas com a língua, as marcas de sapatos e patas de cachorro (ninguém sabe como), brilharão por sua ausência. O assento traseiro não será uma área de desastre, já não nos sentaremos sobre lápis de cera e joguinhos, o tanque não estará sempre entre quase vazio e vazio, e (ALELUIA!!!) não precisarei mais limpar porcaria de cachorro.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, regressaremos às conversas normais. Sabem? Somente uma conversação contínua. Já cada frase não será reforçada sete vezes com expressões de desgosto. Já não se escutará: “Agh”. Não se ouvirão gritos de “apressa, tenho que sair.”, acompanhados de socos na porta do banheiro. Não será necessário buscar um árbitro para resolver questões sobre: “É da minha conta.” E se poderá ler por completo um artigo de uma revista para comentá-lo depois extensamente, sem que tenhamos que nos esconder para terminar a conversa.
      Algum dia, quando os filhos tiverem crescido, não ficaremos sem papel higiênico. Minha esposa não perderá suas chaves. Não nos caberá fechar a porta da geladeira. Não teremos de imaginar novas formas de desviar a atenção da máquina de chicletes...nem teremos que responder perguntas como: “Papai, é pecado teres conduzido o carro a 80Km/h em uma área de 60?”...nem prometer dar um beijo de boa noite no coelho, nem esperar uma eternidade para que voltem para casa depois dos seus encontros, nem esperar a vez para poder falar à mesa durante o jantar.
      Sim, algum dia, quando os filhos tiverem crescido, as coisas serão muito diferentes. Um a um abandonarão nosso ninho, e o lugar começará a brilhar em ordem e, tomara, elegante. Se ouvirá o tilintar da porcelana e da prata nas refeições. Será possível se ouvir o estalar do fogo na lareira. O telefone estará estranhamente silencioso. A cama estará calada...e tranquila...e sempre limpa...e vazia...e passaremos o tempo não olhando para frente até algum dia, mas sim olhando para trás e lembrando.
      E pensando: “Talvez possamos cuidar dos netos, e trazer outra vez um pouco de vida a este lugar”.(
Raul Deringer)


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