CELEBRAÇÃO DA SANTA CEIA EM TEMPOS DE COVID-19
O Presidente da IELB, Rev. Geraldo Schüler, solicitou à Comissão de Teologia e Relações
Eclesiais (CTRE) uma manifestação sobre a possibilidade ou não da busca de alternativas para a
celebração da Santa Ceia neste momento em que não acontecem os cultos comunitários nos
respectivos templos. Em cumprimento à solicitação do Presidente, expomos o que segue:
1) Os componentes da CTRE estão unidos aos irmãos e irmãs da IELB na saudade dos cultos
públicos e no desejo não satisfeito de comungar na mesa do Senhor, a fim de receber,
com o pão e o vinho, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de nosso Salvador Jesus
Cristo.
2) Por isso, a manifestação que segue não brota de corações e mentes que analisam “de
fora” uma situação existente, porém de pessoas que compartilham das limitações que
a presença da pandemia do Covid-19 impõe a todos os cristãos. As consequências das
limitações também nos atingem e tomam conta do coração de cada um de nós,
preenchendo-os de saudade dos dias em que podíamos ir aos nossos templos para
receber do Senhor tudo aquilo que ele nos concede com sua multiforme graça.
3) Não nos cabe, todavia, compartilhar apenas das consequências das limitações. A CTRE
deseja também repartir com todos os irmãos e irmãs da IELB a confiança na ação
graciosa de Deus, pois temos um Senhor que é exagerado na sua graça para com os
pecadores e, por isso, não há limites para sua ação graciosa através de meios, nem
mesmo aqueles impostos pela presença de um vírus tão letal quanto o Corona.
4) Devido à inexistência de limites para o Senhor agir com sua graça, mesmo não podendo
ir ao templo para nosso culto comunitário, não nos faltam meios da graça que nos
trazem perdão, amparo e consolo. Temos utilizado vários recursos que põem os meios
da graça junto a nós. Deus seja louvado por isso!
5) É dádiva divina podermos falar em “meios da graça” porque se trata de uma verdade
que nos brinda com um extraordinário consolo no presente momento que o mundo
vive. As limitações impostas pela pandemia nos impedem de receber um meio da graça,
ou seja, a santa ceia, contudo não nos alijam do alcance gracioso de Deus pelos outros
meios que ele escolheu utilizar. 6) A expressão “meios da graça” comunica algo maravilhoso: o propósito de Deus de nos
alcançar com sua graça não somente de uma maneira. Há batismo; há pregação do
evangelho, há absolvição dos pecados e há santa ceia. A graça divina não é partilhada,
ou seja, não está dividida entre os meios. Nenhum deles nos traz mais graça ou menos
graça. Por quê? Porque a graça divina nos chega com Jesus e onde ele está, está por
inteiro e, com ele, TUDO, mas tudo mesmo que precisamos para perdão, vida e salvação.
7) Por tudo isso, a CTRE recomenda, em fraterno espírito, aos irmãos e irmãs da IELB, que
continuem desfrutando da ação graciosa de Deus que nos chega com os recursos pelos
quais temos acesso aos meios da graça cuja administração não é obstruída pela
realidade na qual estamos imersos.
8) Que recursos e meios são esses? São aqueles que respondem favoravelmente a duas
questões básicas no parecer da CTRE. Primeira: não provocam nenhuma insegurança
nem questionamento sobre a propriedade bíblica e teológica da sua utilização e
administração. A graça de Deus vem para nos consolar e nos dar segurança da ação
misericordiosa no Senhor, a fim de que a ela nos apeguemos com toda a confiança.
Dentro desse contexto, as compreensíveis buscas de alternativas para celebrar a santa
ceia neste momento excepcional, alternativas que fogem do praticado historicamente
pela igreja cristã, levantam dúvidas e, por conseguinte, questionamentos e insegurança
em torno da relevante pergunta: a santa ceia é do Senhor, portanto, estaria ele de
acordo com as inventivas humanas para contornar a situação que nos priva do
recebimento deste sacramento da forma como vem sendo feita desde os tempos
bíblicos, conforme sua instituição? Fica a dúvida, permanece a incerteza, prevalece a
insegurança. Acresça-se a isso a constatação de que não é a nossa fé que faz a Ceia, mas
a presença do Senhor. Segunda questão básica: o ser igreja não nos faculta o direito de
contrariar determinações governamentais e de autoridades da saúde. A única exceção
prevista pela Palavra de Deus é a cláusula pétrea (antes importa obedecer a Deus do
que aos homens) a qual está longe de cogitação, graças a Deus. O isolamento social tem
como objetivo a proteção do nosso próximo e a nossa. Atender a isso significa viver o
amor na horizontalidade, na qualidade de “pequenos cristos” junto a outros. Convidar
cristãos a sair de casa para receber a santa ceia de maneira alternativa nos move a duas
preocupações: o afastamento da casa, mesmo que seja dentro de um veículo, e o risco
de contágio ao receber os elementos da santa ceia, o qual não é possível ignorar. 9) A CTRE recomenda, portanto, que, ao mesmo tempo em que continuamos a orar
clamando pela misericórdia divina a favor de todos que direta ou indiretamente se
encontram envolvidos com os riscos de contágio pelo vírus, também louvemos e
agradeçamos ao Senhor por nos estender sua plena graça naqueles meios que nos
chegam pelos recursos que existem, os quais não são poucos. Em todos eles se encontra
o gracioso Salvador a convidar: “Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” Mt 11.28
São Leopoldo, 19 de abril de 2020
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