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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

SERMÃO


SERMÃO PARA O 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 02/10/2016
Lucas 17.1-10
TEMA: Somos servos de Deus!
      Pregar sobre este texto não é fácil. Pois é necessário entender o escândalo do texto que consiste em uma linguagem de escravidão.
      Mas, Jesus quer nos ensinar quão importante é termos aquela humildade de servo que nos compete diante de Deus.
       O exemplo de uma serva indigna, confessando que apenas fez o seu dever, poderia ser a mãe, cujo amor não mede esforços quando se trata da vida do filho, e que não trabalha para merecer dinheiro ou gratidão, mas simplesmente porque ama o seu filho.
       Assim também nós... em relação a Deus: Servimos a Deus porque amamos a Deus. Este serviço para Deus, se manifesta em serviço ao próximo e será o documento de liberdade.
       O objetivo do ensino de Jesus consiste em motivar-nos a viver com humildade diante de Deus em nosso compromisso de lhe servir, expressando gratidão, que nos trará liberdade e bênçãos da parte de Deus.
       Na década de 1980, uma música muito conhecida repetia a frase: “a gente somos inúteis”. 
       Este refrão bem-humorado lembra este ensino que Jesus passou aos seus discípulos, em Lucas capítulo 17, versículo 10: “Depois de fazerem tudo o que foi mandado, digam: somos servos que não valem nada porque fizemos somente o nosso dever”.
       O que Jesus queria dizer com isso?
      A mensagem contida nesta frase é a de que um cristão, diante de Deus, reconhece que não fez nada para merecer o favor divino. Se não fosse o amor e a graça de Deus, nada seriamos. Nós somos apenas servos inúteis.
       Esta frase de Jesus contém uma grande verdade. Ela precisava ser mais lembrada, até mesmo nas igrejas. O que mais se ouve hoje nas igrejas é o contrário do que Jesus falou.  
       As pessoas acham que têm direitos diante de Deus. Alegam que também são filhos de Deus e que, por isso, não poderiam enfrentar dores, sofrimentos, dificuldades.
       Quantos elogios ditos, quantas homenagens são realizadas desnecessariamente. Deveríamos lembrar mais que somos apenas servos inúteis. Não fizemos mais do que a nossa obrigação, aquilo que deveríamos ter feito e, na maioria das vezes, nem mesmo terminamos o que começamos.
       Lembrar e viver esta palavra de Jesus talvez não dê ibope. Lembrar e viver esta palavra de Jesus pode até mesmo causar certo embaraço entre as pessoas. 
      Mas ela foi dita e contém uma grande verdade. Precisaríamos aprender a olhar muito mais para a graça de Deus, para o amor de Deus, para a compaixão de Deus do que para nós mesmos e as obras que fazemos. Deveríamos ser mais humildes. Isso nos tornaria mais agradecidos e conscientes de que podemos melhorar a nossa maneira de ser.          
    As palavras de Jesus, na verdade não pregam servidão, mas libertação. Vamos analisar:
      1. Somente o escravo de Deus é livre neste mundo. Escravos de Deus não podem ser escravos de outros. A atitude do apóstolo Paulo o exemplifica: A autodenominação servo de Jesus Cristo (Rm 1.1; Gl 1.10; Fp 1.1) é, a um só tempo, expressão de humildade e de autoridade. 
      Frente a ataques dos opositores, Paulo reage ressaltando a sua dependência de Cristo, respectivamente de Deus (cf. Gl l.lss). Assim também acontece com o pastor em paróquia e com o cristão no mundo: somos tanto mais livres quanto mais estivermos comprometidos com Deus.
      Essa liberdade manifestar-se-á em atitudes corretas frente a pessoas, estruturas, instituições, programas, ideologias, sistemas, etc. 
       Quem é servo de Deus, não se deixa enrolar, não se deixa escravizar pela maneira de viver do mundo. Fará assim como recomenda o apóstolo Paulo: examina todas as coisas, e retém o que é bom (l Ts 5.21).
     Certamente atitude correta, ou crítica não é sinônimo de permanente oposição. Mas é aquele exame criterioso das coisas com o objetivo de denunciar o pecado e se engajar na prática do bem.
      Simultaneamente, também devemos entender que o escravo de Deus resiste a escravizar os seus semelhantes. Ele é livre neste mundo, sim! Entretanto, não usa a liberdade por pretexto de malícia (l Pe 2.16).
       Se só Deus é Senhor, não posso ser o senhor do meu próximo. “ ... um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos”. (Mt 23.8) Livre é aquele que desiste de querer dominar os outros.
      2. Como escravos de Deus somos livres da necessidade de nos projetar, de sobressair, de sermos aplaudidos. Verdade? O nosso mundo seria diferente se esta maldita necessidade, de termos que aplaudir nossas obras, não existisse. Não haveria aquela louca correria por status, por um lugar ao sol, por poder, não haveria o culto aos gênios, não haveria aquela infernal disputa por prestígio.
       Quanta energia é gasta, neste nosso mundo, por um pouco de projeção, por uma menção nos jornais, quanto esforço empreendemos por um triunfo por sobre outros.
       O problema é: quem monopoliza a luz do sol, condena outros a viver na sombra.      Mais ainda: a necessidade de projeção nos faz hipócritas. Precisamos aparentar algo que não somos. Precisamos aparentar uma fé que não temos, sacrifícios que não fizemos, posição que não ocupamos.
       A necessidade de projeção nos faz injustos,   cruéis nos nossos juízos,   porque julgar os outros é uma maneira de ressaltar-se a si mesmo. A necessidade de ser melhor que o outro nos leva a matar o próximo. Eis aí a violência contra o próximo, famílias desunidas, as guerras.
       Porque Caim matou seu irmão Abel? Porque ele queria ser melhor, ter status diante de Deus, quem sabe diante do pai e da mãe. O pecado continua a destruir.
     O escravo de Deus não tem necessidade de entrar nessa corrida por projeção. Deus, por acaso, já não nos deu dignidade suficiente? Ele não nos valorizou, declarando-nos sua propriedade no batismo?
       Naturalmente, também para o cristão, é doloroso jamais receber uma palavra de agradecimento. A falta de gratidão entre os homens é sinal alarmante de quanto são escravos de si mesmos e de um sistema em que impera a lei da projeção.
      No entanto, o cristão não depende do reconhecimento de outros. Ele tem a liberdade de renunciar à gratidão e ao reconhecimento humanos. E esta me parece ser a renúncia mais difícil.
       Sob a perspectiva cristã é simpático aquele que não busca a publicidade, que não toca a buzina diante de si, que não faz caso de suas obras, que não se faz grande, que não procura a promoção própria.
      Vejamos o alerta de Jesus em Mt 6.2, para aqueles que buscavam aplausos do mundo: “... eles já receberam a recompensa”. Que recompensa? Os aplausos do mundo, nada mais vão receber.
       Ao mesmo tempo, porém, Deus promete recompensa aos que desistem de exigir recompensa. Ele vai engrandecer aos que dizem: Servos indignos somos, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. Gratidão só recebemos como presente. Deus não tem o dever de agradecer a seus servos, mas ele o fará, se lhe deixarmos a liberdade para tanto.
      3. Vivemos numa época em que muito se fala da necessidade de colocar sinais do reino de Deus neste mundo. E de fato, a Igreja está traindo a sua missão. Ela, em muitos casos,  não está sendo a cidade edificada no monte que não pode ficar oculta (Mt 5.14).
       Mas, uma coisa é ser sinal, outra é querer colocar sinais. A vontade de colocar sinais está perigosamente próxima da vontade de se projetar. Onde está aí o limite?
     A situação, realmente, é desgraçada: esperam-se sinais da Igreja e dos cristãos. Pergunta-se: o que a Igreja fez? Os jornalistas precisam de fatos concretos, eles querem enumerar: a Igreja fez isto, isto e aquilo; fulano, por motivos cristãos, assim agiu e assim falou; estes são os sucessos da Igreja, estes os seus fracassos, estas são as suas obras.
       Que tentação!! Ainda temos a liberdade de renunciar à projeção?
       Neste texto, a Palavra de Deus nos ensina que, os sinais mais brilhantes serão sempre aqueles que começam a brilhar por si, as obras feitas em humildade, apontando para o sinal por excelência que é Jesus Cristo. A Igreja ou o cristão não deveriam querer colocar sinais, eles deveriam ser sinais pelo simples fato de serem escravos de Deus, e por isto livres neste mundo.
       Deus nos amou, deu o seu Filho Jesus, que pagou por todos estes pecados e os venceu, porque querer correr atrás disso tudo de novo? Deus nos amou, ele é o nosso Senhor, e isto nos basta.
       Sejamos servos humildes servindo com dignidade ao nosso Senhor. Amém.

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